segunda-feira, janeiro 22, 2007

Impressões


Agora eu era uma borboleta de asa quebrada.
Eu já era borboleta toda, livre de casulo.
Mas minha asa, quebrada.
Vivia entre flores e maravilhas fantásticas.
E era feliz e triste, admirando os vôos altos, trêmulos e vibrantes de outras borboletas coloridas.


Para a dor do oco não há nestesia.

Entenda, não me falta sensibilidade. Me sobra.

O mundo em mim fica num silêncio sensível e arrepiado quando marcado pelas intensidades imensas do mundo que não é meu.

Fico quieta, parada, admirada. Com medo de me mover para o segundo não me escapar. É quase como pescar. E eu que nunca pesquei nem peixe, nem segundo.

Às vezes frágil como asa de borboleta partida,
Às vezes forte como coifa sedenta de vida.
Orgânica.


E apaixonada por olhos de espelho. Cor indefinida e misteriosa de metal brilhante e reluzente de águas transparentes.

Agora entendo o significado escondido de um olho d’água. Nascente. Esplendor suspenso. Lâmina espelhada refletindo para o exterior águas de lençóis profundamente freáticos. Olho do fundo da terra, do duro da terra, do âmago da terra que vem olhar a superfície. Que vem molhar de lágrima a superfície.

Às vezes o que há de medo quebrado no fundo dos meus olhos tenta procurar nos dele resquícios de um futuro amor rasgado – rasgado como meia de seda rasgada, arranhada na pele, sem conserto nem disfarce.

Logo depois meus olhos fecham. E esses cacos doloridos inexistem. Se dissolvem no que é quente e liso do corpo dele.

Naquele colo, o que é casulo em mim se rompe em impressões contorcidas.

Naquele colo, o que é casulo em mim desnuda-se num vôo de mil borboletas coloridas.

6 comentários:

Anônimo disse...

puta que pariu

Anônimo disse...

melhor do que o silêncio só joão.
puta que pariu dinovo.

Thai Angelo disse...

Hera,
www.olhares.com

Impressões...
fragmentos vários e conectados.

Felipe disse...

o pássaro de asas feridas junto da borboleta de asa quebrada...
oh q belo encontro! o do medo afoito com a delicadeza sensível.
"num vôo de mil borboletas coloridas" nos levando lá no alto q as minhas asas quebradas não podem levar!

"Flores, asas de borboletas, vulcões, espinhos e feras.
Todos os sonhos, todos os pesadelos, o mundo todo pela janela.
Começará tudo a desabrochar, a volitar, a arder e sangrar!
A rugir, a se realizar, a se esquecer e a explodir!
Tudo isso em cada um de nossos poros logo aqui!"

lindo, meu bem!

Anônimo disse...

é tanta delicadeza e tanta força. e tanta alegria vibrante e tanta dor. e tanta coisa junta, menina. vc é muito.

Anônimo disse...

li mais de uma vez e mesmo assim nao creio que percebi seus sentidos nesse texto, mas definitivamente essa borboleta sofreu com a asa quebrada... rs abraços thai