segunda-feira, outubro 23, 2006

Quero mais é me gastar


Eu quero mais é me gastar...
Gastar minha sola ao chão,
Meu tempo à toa,
Saliva em vão.
Eu quero mais é gastar minha juventude,
É surrar a mocidade,
Pra que quando se desbote em velhice,
Que seja por um bom motivo.
Eu quero mais é gastar minha meninice,
Pra que o tempo marque minha carne e o que me há além dela
Com boas lembranças boas de se lembrar.
E que seja por um bom motivo.
Pra que quando o fim interromper a história,
Tenha ela sido bem contada.
Pra que quando a morte me invadir a vida,
Tenha ela sido bem vivida.

Nunca me quero cansar de viver.
Quero mais é que me viva,
E que um dia,
Cansada a vida de mim,
De mim se esvaia.

E que seja por um bom motivo.

terça-feira, outubro 10, 2006

Sobre a saudade


A saudade é um parto ao revés.
É guardar tudo que foi, aguardando.
É amar grávido de amor.
É ele nascido, crescente, esperado.
São momentos relembrados, incubados.
Não congelados, porque saudade arde em fogo.
Sim derretidos, contidos no peito.
É suspirar,
Por entre suspiros,
Por um suspirar que virá.


domingo, outubro 08, 2006

Mimo


A calma escorre nas paredes
E um vento fresquinho invade as janelas
Enquanto a paz me acarinha a nuca
E me tranquiliza a alma
Seu som é leve
E me toma a casa
No balanço manso do ar...
Se espalhando quietinho
No meio do mimo molinho
Esparramado no sofá.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Sobre a nostalgia


Se é nostálgico quando,
No presente momento,
Se enxerga a tudo como se coberto por uma fina camada de névoa saudosa
Com textura de papel de seda transparente
Que não se vê,
Mas se sente.
Quando os sentimentos são não como sentidos,
E sim como lembrados.
Quase não tocados, de tão nuvem.
Quando se sente o que ainda há por vir, num misto de tudo que foi.
Como ser-se não se sendo,
Recordando um futuro,
Vendo as cenas do aqui num álbum de retratos...

domingo, outubro 01, 2006

Prosa p'ra lua


A lua lá
Só, independente
Esparramada entre as nuvens, preguiçosa...
Pairando superiormente
Brilhando mais que qualquer reles estrelinha...
Presunçosa!
Como se toda essa luz fosse sua!
Como bóia esburacada?
De longe nem parece pesada...
Mas ainda sozinha.