Que a vida é dura eu sei porque você me fez saber desde sempre que a vida é dura. Mas Maria, a vida pode ser dura o quanto for que eu ainda quererei permanecer mole. Sei que talvez não me entenda e que isso não lhe seja, nunca e ainda talvez, motivo de orgulho. Mas é que a minha moleza pode ser maleável, querida. Nunca quero endurecer, nunca quero deixar de escorrer. E sei que você também nunca quis. Sei que suas mãos, hoje tão grossas e traídas pelo cinza que há (e que não gosto) na vida, já tocaram delicadezas com toques suaves. E sei que ainda há de haver entre esses dedos brutos, vestígios de flores. Sei porque sei nos seus cabelos um ainda brilho vistoso, uma ainda vida e uma ainda esperança. Sei que seu ronco é acúmulo de supiros cansados. Sei que você é líquida e toda líquida aí por dentro do por dentro do por dentro de você. Assim como eu. Ou eu o sou assim como você é. Porque dos seus líquidos me originei, dos seus líquidos e das suas coxas. Do seu gozo, suor e sangue. E das suas lágrimas. Eu não admiro sua crueza, minha Maria. Mas eu admiro o que há por dentro e que sai sob seu consentimento com tanta facilidade dos olhos seus. Eu admiro suas lágrimas, seu queixo trêmulo, seus arrepios. É que você é dura de verdade por fora, mas ainda permite a saída de seus líquidos. E talvez eu também seja assim dura às vezes, como quando me enraiveço e enrubesço "dando uma lágrima ao mundo", ou ainda, quando penso ser frio um arrepio. Quem sabe, num dos últimos dias, eu a peça ajuda para saber diferenciar? E quem sabe ainda, eu até aprenda...
segunda-feira, dezembro 04, 2006
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4 comentários:
f-o-d-a
simplesmente. ;*
posso responde-la mesmo nao sendo a mim destinada?
eu não saberia
(:
mas que linda carta..
moça mole e líquida, penso que Maria deve ter aquela beleza que a gente fica morrendo de vontade de encontrar, só porque a gente sabe que um dia existiu, ou porque brota nos olhos. Maria vaza.
escrevi mais uma carta...
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