segunda-feira, agosto 11, 2008

Gabriela com Rebu

Querida,

Hoje pintei minhas unhas de um vermelho mais intenso. Gabriela com Rebu. Porque estou grave, porque estou funda.
Estou de cor vermelha quase vinho, não mais sangue derramado. Estanquei.
Sinto um sossego de aceitação chegando na alma. E nós sabemos que o sossego que vem da aceitação perdura mais que o do entendimento.
Nós temos ciclos de luas, águas e colheitas no ventre. Nós carregamos o mundo no ventre. Sentimos o peso de nossos homens, geramos os filhos dos nossos homens.
Os homens serão sempre filhos. Não sabem a hora certa. Não têm a fenda aberta. Não deixam o mundo entrar: eles entram no mundo.
Trabalham no tempo, sem tempo de parar e entender o tempo do tempo. Entendem do tempo e da vida o que se pode obter em menos tempo para mais vida. Prosseguem. Perpetuam-se. Os homens serão sempre pais.
Dos seus incômodos, compadeço-me com todos. As coisas novas do mundo novo parecem tanto ou mais artificiais quanto superficiais. Relações fáceis, prazeres imediatos, máscaras baratas.
Nega-se a isso ou a você mesma. É uma via de mão dupla, via de regra.
Negando-se ao de fora, mergulha-se no infinito de dentro e vai-se mais e mais para o fundo até se afogar e perder contato. Quase ninguém terá tempo ou fôlego para as delicadezas ou podridões abissais que você encontrar. Por isso, é um encontro único e íntimo apenas.

"Enfim louca, não mais solitária.
Enfim louca. Enfim liberta.
Enfim louca. Enfim em paz.
Enfim uma tola, uma luz interior."*

Que fazer?
Uma mulher sempre sabe. Porque quando já não há o que se fazer, uma mulher sempre sabe esperançar.
Não os homens, eles sabem sobre gozar e nascer.
Morrer, ninguém sabe.

Sem respostas, mas com carinho.


* trecho do filme Asas do Desejo, de Win Wenders.

segunda-feira, agosto 04, 2008

Às vezes eu acho que...


Às vezes eu acho que se acha muito sobre tudo, sem nada encontrar.
Cansei de andar vagando a divagar.
Quero menos, bem menos.
Agora quero simples.
Cara a cara, con-tato.
Quero topar numa verdade.
Sentir a verdade, de verdade.
Verdade em pedrinhas, pra levar no bolso, ver com a mão.
Te mostrá-la em pérolas duras, meu amor.
[Vou contar seus dentes, dar-lhes nome e dizer amor a cada um.

Medo?
O medo é só o que vem antes, como uma porta trancada que se destranca.
Medo não salva ninguém.

Sou das coisas que existem, meu nome é agora.
Estou no fluxo.
Ando atenta ao que posso por os dedos.
Estou de sangue da ponta ao talo.

Pulmão cheio de cavalos marinhos galopantes.
Suas crinas me carinham por dentro dizendo que está tudo bem, está tudo muito bem.
Mergulho e confio, arfante...