
Acho que meu corpo nasceu pronto para amar. Acho que o tamanho do meu corpo já foi pré moldado a não caber. Não caber amores, danças, flores. Aqui de dentro vejo tudo trêmulo como se ventasse todo o tempo. Aqui de dentro tudo é grande. Algo me diz que meus pés já tinham potência de danças e vôos mesmo antes de aprender a andar. Tudo em mim reluz e cintila com uma música sempre presente, mas que nunca se fez ouvir. Deve ser por isso que gosto de me fazer girar, girar e girar com os braços bem abertos, com os braços bem abertos. Quando estou só. Porque só assim posso dançar meu passo. Aquele passo que ninguém me ensinou. Aquele passo cabeça solta que roupas fazem no varal. Aquele em que me estico toda, tentando tocar tudo além de mim, tudo além do meu centro. E quanto mais eu giro e fico tonta, mais parecidas ficam as coisas de fora com o que vejo delas aqui de dentro.