Hoje eu tô de cor tremida e desfocada. Não tô querendo nada além de nada. Hoje é dia de pijama sem mágica e sem graça. Dia de dia ofuscado com trilha sonora de chiado. Hoje sou um vulto de mim. Hoje não faço nem questão de "mim". Sombra sem glamour fantástico: Sou o fim da fumaça, espalhada no ar apático. Sou o sono do esquecimento, daqueles sem sonho dentro. Sou o vento morno que desfolha as letras. Sou espaço mudo e oco. Agora com licença, vou ali morrer-me um pouco.
Vermelho sim. Porque é ardência o que há em mim. Ferve ao mínimo contato, Físico e abstrato. Vermelho é superdose latente. É quente, urgente. Vermelho jorra da minha alma pela boca, me inunda. Habita minhas entranhas, corre nas artérias, palpita no meu corpo: cor fecunda. Amarelo é vômito morno, laranja, covardia. Toda cor aspira ser vermelho um dia.
Agora eu era uma borboleta de asa quebrada. Eu já era borboleta toda, livre de casulo. Mas minha asa, quebrada. Vivia entre flores e maravilhas fantásticas. E era feliz e triste, admirando os vôos altos, trêmulos e vibrantes de outras borboletas coloridas.
Para a dor do oco não há nestesia.
Entenda, não me falta sensibilidade. Me sobra.
O mundo em mim fica num silêncio sensível e arrepiado quando marcado pelas intensidades imensas do mundo que não é meu.
Fico quieta, parada, admirada. Com medo de me mover para o segundo não me escapar. É quase como pescar. E eu que nunca pesquei nem peixe, nem segundo.
Às vezes frágil como asa de borboleta partida, Às vezes forte como coifa sedenta de vida. Orgânica.
E apaixonada por olhos de espelho. Cor indefinida e misteriosa de metal brilhante e reluzente de águas transparentes.
Agora entendo o significado escondido de um olho d’água. Nascente. Esplendor suspenso. Lâmina espelhada refletindo para o exterior águas de lençóis profundamente freáticos. Olho do fundo da terra, do duro da terra, do âmago da terra que vem olhar a superfície. Que vem molhar de lágrima a superfície.
Às vezes o que há de medo quebrado no fundo dos meus olhos tenta procurar nos dele resquícios de um futuro amor rasgado – rasgado como meia de seda rasgada, arranhada na pele, sem conserto nem disfarce.
Logo depois meus olhos fecham. E esses cacos doloridos inexistem. Se dissolvem no que é quente e liso do corpo dele.
Naquele colo, o que é casulo em mim se rompe em impressões contorcidas.
Naquele colo, o que é casulo em mim desnuda-se num vôo de mil borboletas coloridas.
Artista plástica, hairstylist, maquiadora e designer de sobrancelhas profissional em Vitória - ES. Experiência em maquiagem de Beleza, Moda, Teatro e Cinema. Especialista em ministrar cursos de auto maquiagem, treinamentos para profissionais de beleza e oficinas.